terça-feira, 21 de junho de 2011

Eu não vou embora, não, Henrique!!!

Henrique é meu novo vizinho. Ele tem uns dois anos de idade. Fico meio perplexa às vezes com a forma como tratam a criança. Ele sempre grita e sempre gritam com ele. Hoje acordei com ele dizendo que sua mãe ia embora. E ela gritava: Eu não vou embora, não, Henrique!!! Eu vou é trabalhar e estudar.

Não sei de que forma isso pode não ser traumático para os dois. Mas sei que o Arthur, filho da minha amiga Hera, foi numa boa pra escola, sem aqueles dramas de primeiro dia. A mãe dele comprou seu livro com antecedência, a família conversava sobre o livro, mostraram a escola antes. Achei muito interessante a forma como fizeram. A escola nunca foi motivo de desespero pra ele, que eu saiba. O Arthur sempre se referiu ao colégio como “a minha escola” e ele nem usava os pronomes possessivos direito ainda. Dois anos.

Mas a senhora da casa ao lado gritou isso hoje muitas vezes mesmo. Eu não vou embora!!! Mesmo criticando a forma um tanto grosseira como ela fez isso, lembrei de quando eu mesma sentia saudades da minha mãe. Era uma saudade que nada supria. Quando ela chegava depois de um dia inteiro de trabalho no fim de semana (ela trabalhava meio período a semana toda e folgava ou o sábado ou o domingo), eu me sentia radiante! Era minha heroína (no bom sentido).

Fico sempre observando a forma como as crianças são educadas e meu projeto de mestrado em parte trata disso. Entre as coisas que aprendi com o caso da casa ao lado é que se você ensina, elas aprendem – mentira, eu já sabia. Ensinar é diferente de esbravejar, exigindo compreensão de alguém que está necessitando irrevogavelmente de Amor. Dê amor, dedique tempo, mesmo não tendo e terás paz. É o inverso de exigir compreensão. Você ensina a compreender e quando mais precisar estará lá. Mesmo não sendo uma fórmula mágica, resolve muito.

Desde que eles chegaram eu escuto, e asseguro que não tenho escolha, a forma como ele reivindica suas coisas. A palavra é sempre essa: reivindicar. Quem pressiona tem o mal de acreditar que só consegue aquilo se pressionar. Será por quê?

O garotinho calou e a mulher incrivelmente mudou de expressão, sua voz parecia amável repentinamente e dizia ao menino: Que menino inteligente! Você entendeu!

Uma hora depois ele estava aos berros, gritando aquilo que também gritava ontem a noite: Mamãe, mamãe!!!

(Na foto eu tinha um ano. Segundo minha mãe, eu nem sabia caminhar.)

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