segunda-feira, 9 de maio de 2011

Esse negócio de cultura popular

Vem aqui. Senta do meu lado.

Quero falar com você de uma coisa complicada. Cultura. Sim, eu estudo isso e nunca aprendi ao certo o que significa. Sim, já estou há seis anos nessa jornada. Claro, eu amo o que eu faço. É lindo!

Se sei dizer mais ou menos o que é cultura? É... mais ou menos. Essa definição dá muito pano pra manga. Mas quero te explicar assim bem baixinho, com calma, que cultura é um negócio difícil de determinar e olha que um monte de gente entendida já se aventurou nessa.



E popular...vixe! Dizer que algo é popular é coisa séria. Ah, porque popular se refere a povo... quer coisa mais ampla? Povo de onde? De um hospital? De um país? Do tamanho do Brasil? Os pobres? Que horror! É o que eu chamo de preconceito ao contrário. Então como é que a gente pode achar que dois nomes, só porquê estão juntos explicam as manifestações de uns grupos? Se você pensa que popular se refere a quantidade de gente, pensa naquela massa de pessoas de baixa renda lotando os espaços, lembre daqueles que lotam os teatros em espetáculos de ópera, do Circ du Solei ou do Bolshoi. E a Disney? Vai dizer pra mim que não é popular? Aquele monte de gente dando tchau pros seus mitos infatis...

Espera, eu vou chegar lá. É que você fica pensando que cultura popular se refere a tradição do nordeste ou do interior dos estados. Talvez se esqueça que povo também é aquele que tem dinheiro e vai visitar as quadrilhas e sabe que aquela tradição é do lugar de onde eles vêm. Então porque as elites não podem ser dessa cultura também? Mas se você falar em manifestações, aí sim, vai ter que dizer que manifestação é, e isso mais inteligente. É, o mundo acadêmico também tem moda, sabe? Falar de ruralidades seria mais acertado, pensando pelo lado dos interiores. Mas essas manifestãções também acontecem nos centros urbanos, né? Viu como é complexo?

Deixa eu te dizer, li um texto que dizia que em Viena, lá na Áutria, eles só aceitavam música produzida por lá mesmo, clássica, rebuscada. Lá, popular era o que era muito elaborado. Então tá, da próxima, você não vai mais pensar que erudito é contrário a popular, porque sabe que a MPB, feita pelas elites, também é cultura e se chama popular. Vamos mudar seu nome? Vê como é difícil? O que a gente faz agora? Tenta ajeitar isso aí na nossa cabeça enquanto os intelectuais não ajeitam. Ah, e cuidado onde fala disso, que tem muita gente inteligente pensando nisso também.

As pessoas juram, então que cultura popular é um termo melhor que folclore. Ledo engano. Folclore é mais específico e ao mesmo tempo mais abrangente. Ele representa aquelas manifestações que foram formadas por resquícios de religiões e olha que não sou eu quem diz isso. E uma roupagem atual àquilo que um dia teve outros significados, mas que representam, ao mesmo tempo, uma festa, simbolos ou elementos relacionados aos atuais. Percebe como o folclore representa uma corda que vem do passado, mas que vive lúcida atualmente? Ele não é uma totalidade chamada cultura. Mas se você quer saber mesmo porque cargas d' água a cultura não pode ser definida, eu vou te responder com um poema. No lugar de liberdade, pense CULTURA:

“Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda.”
Cecília Meireles

Nenhum comentário: