quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Aeroporto - Parte 3

Quando descemos do jantar para fazer nosso novo check in, ficamos jogando papo fora. Eu já tinha tido a maior conversa com o Laerte sobre educar filhos e alunos. No vão da verificação das passagens fomos abordados com um rapaz de aparentes vinte e cinco anos que dizia ter crises convulsivas e ter saído da Bahia para se tratar. Ele tremia e demonstrava certa vergonha em expor sua situação para nós. A Dalva (vide post anterior) ficou com os olhos marejados. Vimos a carteira de deficiente que ele usou para viajar de avião. Estava há três dias no aeroporto, só fez uma refeição e tinha que se esconder dos seguranças. Trazia uma mala pequena. Claro que aquilo comoveu a todos nós. Ao todo ele recebeu R$ 200,00 das pessoas que estavam comigo porque percebemos que o que dizia era real. Fiquei triste porque só tinha dinheiro para pagar em débito e fiquei pensando em levá-lo para comer. Foi melhor não. Ao receber o dinheiro seus ombros caíram de alívio, mesmo sabendo que não seria o suficiente para voltar. Quando ele saiu ficamos pensando em sua situação. 
Ester me dava umas aulas de história, contando que o aeroporto que estávamos foi inaugurado pelo general Médici e ela participou desse dia, toda de tailleur. Mas disse que o pior de todos os generais era o Geisel. Ela viveu esse período. Quando menos esperamos, o rapaz que havia falado conosco começou a cambalear. Ele segurou na parede, sentou no chão e teve uma convulsão no meio do aeroporto.

Gente, eu estou contando o que aconteceu na volta pra casa. Fatos reais.

A Dalva desaguou a chorar eu corri pra tirá-la dali. Fiquei tentando mostrar algum lado positivo naquilo tudo. Achei que agora finalmente iam ver o caso dele e alguém pudesse ajudar. Laerte foi ao encontro do rapaz e vieram primeiro os profissionais da Infraero e depois enfermeiros. Ajudaram.
Se eu tivesse levado o moço pra jantar ele iria passar mal comigo no terceiro andar, o que talvez dificultasse o atendimento dele. Imaginamos que ele tinha sofrido com a emoção de ser ajudado e com a fome. Essa foi a  foto que consegui tirar mesmo com remorso de expor a situação de vulnerabilidade da pessoa.


Mais tarde, mais calmos pela ambulância que o levou fomos embarcar. Ainda contamos algumas piadas na sala de embarque. Vim separada dos meus companheiros no avião, o que foi bom porque li e porque disseram que o Anderson ronca muito. Trocamos os telefones e combinamos uma pizza. Tomara que aconteça. Vi mais uma vez que passar por dificuldades acompanhados é mais leve e que as pessoas se unem quando se sentem inseguras com sua situação. Vi também até onde as pessoas são capazes de ir em nome de sua saúde e quanta generosidade as pessoas podem ter. Cheguei em Teresina quase quatro da manhã.

Agradeço muito por ter ido e por tudo que aconteceu. Aprendi. Vivi.
O Rio de Janeiro foi o fôlego, a beleza, a contemplação.
Nunca vou poder pagar a Nana e Thays pelo que fizeram. Amo vocês mais ainda.

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