quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Clifford Geertz e o casamento de uma vida

"Somente quando se presencia, como eu presenciei, um jovem cuja esposa tinha morrido súbita e inexplicavelmente - e essa esposa tinha sido criada por ele, e fora sempre o centro de sua vida - receber convidados com um sorriso fixo e desculpas formais pela ausência da esposa, tentando, com técnicas místicas, aplainar - como ele mesmo se expressou - as colinas e vales de suas emoções para transformá-las em uma planície ("é o que temos que fazer", disse ele, "estar no plano, por dentro e por fora") pode-se, frente a nossas próprias noções sobre a intrínseca honestidade de um sentimento profundo, e a importância moral da sinceridade pessoal, levar a sério essa concepção do eu, e apreciar esse tipo de poder, por mais inacessível que este lhe pareça."
GEERTZ, Clifford. O saber local: novos ensaios em antropologia interpretativa. Tradução de Vera Mello J. Petrópolis: Vozes, 1997. p.94
Faz tempo que decidi que postaria esta citação pela intensidade da lição que me ensinou e por concordar que este tipo de poder me é inacessível.
Justo hoje que o avô de meu amigo Diêgo morreu. Ver sua viúva com a cadeira colada no caixão, sem levantar para nada enquanto todos iam e vinham me fez pensar sobre a devoção que temos à existência das pessoas.
E fiquei feliz que ela tenha podido ter isso.

Nenhum comentário: