quarta-feira, 20 de abril de 2011

Em que você é selvagem?

Povos da floresta é uma definição que gosto. Consideravelmente melhor que Povos tradicionais, a meu ver. Não procuro escrever um texto científico. Este é meramente um texto de opinião.

Esses raciocínios nasceram na aula de Antropologia I, do PPGArq – UFPI, que debatia as ideias de Durkheim sobre a religião. Gosto muito da obra. Num determinado momento surgiu um parêntesis que me chamou a atenção sobre o que se pode chamar de Antropologia reversa.

Quando falamos de povos da floresta estamos sim, determinando. Claro, as nuances devem ser colocadas e foram justamente as nuances que me chamaram a atenção. Povos da floresta seriam aqueles que têm uma relação com o meio natural intensa, e tira dele seu sustento simbólico e material. São geralmente os indígenas. Porém, para eles – existem trabalhos sobre isso – pode ser o “branco” o homem da floresta, ou seja, aquele que vem através da floresta e aqueles que não compreendem a floresta é que são selvagens. Selvagem nessa acepção é aquele que é ignorante em relação a algo. Somos constantemente alheios a muitos tipos de conhecimento.
Como temos na maioria das vezes que tomar - e assumir – um referencial, para nós eles é que são da floresta. E nós que somos os selvagens, algumas vezes por nos assemelharmos em comportamento a seres que eles consideram do meio natural. É sério.

Sabendo disso, entendemos três coisas:
a) Não somos nada mais civilizados que os que moram em aldeia, pois a aldeia e, porquê não dizer, a floresta, é um espaço de socialização.

b) É relativamente perceptível aqueles que não são da floresta. Esta classificação, caso seja conveniente, é mais aplicável pelo seu caráter distinguível ou distinguidor.

c) O homem ou mulher da floresta é que poderia – e também há estudos sobre isso – ressocializar a pessoa diferente no ambiente em que eles são mais educados.

Não quero com isso parecer empirista, no sentido de que só a definição observável é que é aceitável. Mas defendo uma definição que consiga contrastar os membros que quer particularizar, ao mesmo modo que falei das Sociedades da tradição. Quis só voltar a criticar os termos e demonstrar porque utilizaria a categoria Povos da floresta.

Estes escritos poderiam ser chamados de ensaio, mas não tenho certeza se é isso mesmo. São, na verdade, a realização de uma antiga vontade de não utilizar as tão obrigatórias citações (no que concordo profissionalmente) que nos autorizam a dizer o que queremos.

Obrigada ao Professor João Miguel pela discussão que gerou estes raciocínios.


Muito também poderia ser falado sobre o relacionamento do homem com a floresta, mas vou pensar mais sobre isso.

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