quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Vai, Vó.



Na terça-feira da semana passada a minha avó morreu.

Esse talvez seja o post mais triste de todos os tempos, mas eu não poderia deixar de falar dela, que remete imediatamente à minha infância. Quando penso na minha avó Maria Preta me vem à mente aquela gargalhada gostosa dela. Até os quatro anos eu vivi no mesmo bairro que ela e vivi intensamente o que é ser neta. Depois disso ainda continuei freqüentando a sua casa, com ela me enfiando a comida goela abaixo, me sujando em seu quintal, brincando com suas plantas, enquanto ela lavava a louça e no fim da tarde ia me dar banho. Quantos passeios ao mercado da Piçarra. Enquanto ela morava lá e eu era criança era tudo lindo.

Depois nos afastamos. Mudamos de escolas, conseguimos novos amigos e nos desvencilhamos do bairro em que nascemos eu, minha mãe, meu pai e minha irmã. O Hospital em que nasci fica bem em frente de onde era a casa dela. Era só atravessar a rua. Quando adolescente sempre que eu a visitava me comovia com como o bairro dela crescia e ela continuava na mesma vidinha. Ninguém nunca conseguiu fazer ela sair da casa dela por bem.

Com a Vó, como chamamos eu e minha irmã, a coisa era tão simples. Ela dava comida, bombom e umas moedas. A minha irmã sempre deixava ela louca. E mesmo assim minha avó gostava dela.

Mas há mais ou menos um ano ela foi morar lá em casa sem nem saber que era pra isso que estava indo, pois todos pensavam que o coração dela simplesmente pararia se ela soubesse que ia sair da casa dela. E foi um fim que eu não desejava pra ela. Uma mulher cheia de vivacidade ficar plantada dentro de uma casa que ficava muito longe de tudo que ela conhecia. Ela teve muitos atritos com meu pai, principalmente da parte dele, que sempre foi revoltado por ser adotado. Mas isso não me interessa. O importante é que ela foi uma grande avó e vê-la perder uma perna depois da outra em função de duas tromboses e depois ficar muito, muito debilitada foi algo que me fez refletir muito sobre se ela esperava por isso. Minha resposta foi não, é óbvio! Ela só queria continuar na casinha humilde dela e morrer dormindo onde ela ajudou a construir. Mas a justiça achou muita injustiça aquela mulher tão idosa seguir morando sozinha (ela tinha uma ajudante que já não podia mais ajudar).

Obs.: A causa da morte dela foi uma bronquite, somada aos problemas de coração que ela sofreu por décadas. Não se sabe ao certo, mas estima-se que ela tinha mais de cem anos.

Obs.: Agradeço muito à minha vizinha Ceiça pelo trabalho/cuidado incansável com minha avó.

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