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– Está chovendo forte. – Disse a nova professora com seu sotaque de Goiânia.
Eu não acreditei e segui na chuva. Quis ser persistente. Desajeitada como sempre e com uma pilha de livros infantis...
– Professora, encosta aqui. Professora! Encosta aqui.
Percebi que estava distraída demais e já ficando encharcada. Ele me indicou uma cadeira e eu me deixei levar pela segurança que ele passava.
– Oi Yuri! – Empolgada e surpresa.
– Professora, eu sou o Kleber!
– Eu sempre confundindo o nome de vocês dois!
Era um aluno meu do ano passado e que não lembro de ter aprovado. Ele deve ter uns dez anos. Fiquei sentada na cadeira observando o ambiente. É uma venda à moda antiga, que tem algumas carnes penduradas.
– Você está estudando aonde, Kleber?
– No Luís Fortes.
– E está estudando inglês?
– Lá não tem.
Eu não podia deixar ele perceber minha tristeza em escutar isso.
Chuva forte. Ele sentado com as pernas abertas, batendo a mão em uma pilha de cartas de baralho alternando a vez com o colega. Eu só pensava em voltar pra casa e fazer meu trabalho sobre “teoria dos atos de fala”. Virei os livros no colo.
– Quer um pano pra enxugar?
– Ah, quero!
Enxuguei.
Apostila com as bordas enrugadas.
Ficando preocupada e ao mesmo tempo catatônica olhando aquelas crianças descalças e sujas, se divertindo.
– Tem um guarda-chuva que eu possa trazer amanhã?
– Peraí. Vou procurar.
Foi só aqui que acordei. Como ele poderia ser tão simpático e hospitaleiro e ao mesmo tempo tão infantil, com sua bermuda suja? Ele trouxe uma sombrinha meio quebrada, muito bonita, que me trouxe pra casa. Ela volta pro dono às sete da manhã.
Agora eu volto ao trabalho de lingüística ainda surpresa com a forma calorosa como ele cuidava de mim. E eu que um dia cuidei dele.
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