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Eu vinha relatando as minhas aventuras como aspirante a mestra. Não sei bem as minhas motivações, posso perfeitamente ter sido influenciada pelos comentários dos meus professores da graduação muito mais do que por estar com vontade de fazer pesquisas que subsidiem ações públicas que ajudem a minorias que estejam se tornando maiorias.
Na verdade, eu passei por apuros nessa seleção de mestrado em mestrado em Antropologia.
Eu ia para um dia a mais de trabalho na escola pública de Ensino Médio onde eu trabalhava – ou trabalho – e esperava ansiosamente o resultado da análise dos projetos de pesquisa, segunda etapa do processo de seleção. Meu namorado, com internet à disposição no trabalho me enviou uma mensagem de texto dizendo algo como “Amor, seu projeto foi aceito”. Eu fiquei horas atualizando aquele site e nada de saírem os resultados então fui pro trabalho. Mas ao contrário de quando saiu o resultado da prova escrita eu não fiquei feliz da vida, sorrindo pro vento. Na prova discursiva tirei 9,4. O 9,0 mais doce da minha vida. Mesmo não sabendo quanto eu tinha tirado no projeto eu pressentia que não tinha tirado lá grande nota. Tenho minhas observações sobre porque não tirei 10,0, mas o fato é que mandei uma mensagem em resposta perguntando ao meu príncipe minha nota. Ele respondeu algo como “Amor, você tirou 7,6”.
Eu sei, eu sei que teve gente que passou na prova e não no projeto, que eu deveria ficar feliz com mais uma etapa concluída, mas poxa! O que é um 7,0? Algum prêmio de consolação? Mas tudo bem, meus professores sabem o que fazem e minha briga era com o universo. Por ter tirado quase a menor nota.
Aí tudo bem, verifiquei a noite, quando cheguei do trabalho, o dia da minha entrevista, etapa seguinte para quem teve o projeto aprovado.
NOTA: Eu estava concorrendo para uma das seis vagas para a linha de pesquisa “Marcadores identitários na contemporaneidade”, havia mais três para “Memória e territorialidades” – que não combina comigo, antropologicamente falando – e seis para Arqueologia. Eles tinham quinze vagas e quinze concorrentes. Atenção para este detalhe.
Fui, fiz a entrevista meio atrasada, mas não que eu tenha demorado. Eles do colegiado tiveram uns contratempos que não acho justo comentar. Só sei que achei que fui muito bem em umas coisas e muito mal em outras. Resultado? Um doce pra quem adivinhar. 7,0.
Eu sei, de novo. Mas ser reprovada não é pior? É pior, mais tarde eu descobri. Porque fui pra prova de títulos e, eu juro, não fiz nenhum pacto com nada, mas tirei 0,7. Não entendi de que maneira minhas duas monitorias, meu trabalho na rede pública e meus dois períodos de Iniciação Científica se transformaram em 0,7. Ah, com isso eu me estressei porque afinal eu tinha feito tudo aquilo, durante horas, dias, meses a fio, para que no fim valesse algo em alguma pós-graduação. Mas não corri atrás. Exausta.
Eu só gostaria de relatar que a essa altura minhas esperanças estavam escondidas em algum lugar profundo do meu cérebro. Todo mundo pensando “Ela vai passar” e eu desesperada com as notas acima de 8,0 dos meus concorrentes. Concorrência, aliás, que já era formada pelas pessoas que iriam fazer o mestrado, já que o número de vagas estava contado. Mas a professora May, presidente da comissão de seleção, no dia da prova de inglês, última etapa, disse as palavras que me encheram de desilusão: “Infelizmente, vamos ter que eliminar duas pessoas da área de marcadores.” Eu que já imaginava que seria eliminada pelos meus 7,0 seguidos, não sei de onde tirei forças pra terminar a prova do melhor jeito que eu pude.
Tirei 8,0.
Ao menos não era 7,0. Era só esperar.
*(cont.) em vez de ser um creme, qualquer coisa podre ou uma couve-flor. [Trecho do livro O que é existencialismo, da Coleção Primeiros Passos]
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