segunda-feira, 9 de maio de 2011

Ato falho midiático

Sexta passada, no mestrado (PPGArq-UFPI), estávamos discutindo a condição das crianças no Brasil e no mundo, até que chegamos a falar do Hip Hop. Nossa professora colocou que muitas vezes sofremos o que ela chamou de “ato falho midiático”.

Ato falho midiático é aquele preconceito que formamos com base na novela das oito ou na Veja. Mas é ato falho quando já estamos treinados para não cair nessa e mesmo assim nos deixamos levar, inconscientemente (se essa palavra não for muito forte).




Ano passado eu ministrava sociologia pra uma turma de segundo ano do Ensino Médio na zola leste. O colégio era do estado, nem vá pensando que era particular só porque fica lá (olha o ato falho midiático!). Os alunos tinham que organizar seminários com a temática da juventude. Um dos grupos ficou com o Hip Hop. Como professora que eu estava, disse a eles: Tem que ser pesquisado! Estava receosa de que cada um chegasse com duas frases anotas em papel e isso fosse o seminário todo. Sabiam que seminário vem da palavra “sêmen”? É isso mesmo, germinar, colocar uma semente, disseminar.

Voltando ao assunto, chegado o dia, quando eles começaram a apresentar eu fiquei encantada. Primeiro porque eles tiveram a preocupação de levar acessórios e músicas no celular para ilustrar o seminário, que achei bem criativo. Tiraram uma nota ótima. Mas meu ato falho foi que eles desmitificaram para mim o que era o movimento Hip Hop. Eles pesquisaram mesmo. Falaram das origens de tudo e das diferenças entre Hip Hop e Rap, dos movimentos dentro do próprio Hip Hop e do respeito ao grafite. Eu nunca tinha parado pra pensar que os pichadores não podiam riscar os grafites. É uma espécie de respeito que eles têm. Vocês já viram algum grafite pichado? Eu só acreditava que o movimento Hip Hop estava ligado a gangues, que era artístico, sim, mas que tinha problemas sociais embutidos. É justamente o contrário. Eles saem da criminalidade para dançar, aprender, cantar, tocar, enfim, se expressar, porque muitas das vezes é vivido por pessoas que poderiam estar “matando, roubando e se prostituindo”. Mas não é só isso. Muitos estão lá pela diversão. E claro que pode ter haver com drogas e com crimes, do jeito que os movimentos católicos e elitistas podem, mas a ideia não é essa.


E eu formada em Ciências Sociais, achando que a violência estava implicada diretamente, não era capaz de ver que o simbolismo está em toda parte, nas roupas, nas expressões corporais e na música deles. Mas é assim mesmo. Tem coisas que só o campo pode nos ensinar.
Eu estava sentada na cadeira dos alunos aprendendo com os olhos brilhantes e eles na frente, ensinando.

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